Vittore Carpaccio nasceu no ano de 1465, em Veneza, na Itália. O artista faz parte da escola artística veneziana, fazendo parte da movimento artístico da arte primitiva holandesa. Carnaccio é o grande responsável pela confecção da narrativa que contém nove ciclos conhecida pelo nome de Lenda de Santa Úrsula que se encontram atualmente na Gallerie dell’Accademia em Veneza. Foram esses nove murais que tornaram Vittore Carpaccio um artista veneziano muito conhecido. O artista foi um dos primeiros pintores a dominar a iluminação e proporções na pintura.
O artista foi aluno de Lazzaro Bastiani, um pintor renascentista da época, que era um dos poucos que possuíam um grande ateliê que aceitava alunos. Carpaccio também teve influências da arte de Antonello da Messina, um pintor que fazia pinturas com características do movimento artístico da pintura holandesa primitiva, como podemos ver na pintura abaixo chamada de São Jerônimo em seu gabinete:

São Jerônimo em seu gabinete é uma pintura com elementos da pintura holandesa primitiva como o realismo das imagens representadas, a perspectiva, o bom uso da luz e da sombra. Na pintura da Idade Média prevalecia as figuras planas, simbólicas, sem naturalismo. As primeiras pinturas holandesas começa a desenvolver essa estética para conseguir pinturas cada vez mais naturais. Antonello de Messina seguia essa tendência dos primeiros pintores holandeses, algo que Vittore Carpaccio também utilizou em suas obras de arte.
Uma das pinturas de Vittore Carpaccio é sobre um tema bastante popular na época da renascença e se chama A Madonna e a Criança.

A Madonna e a Criança é uma pintura que mistura características renascentistas e as da pintura primitivista holandesa. No renascimento italiano, a transição para uma estética mais natural e realista demorou muito mais do que na arte holandesa.
No início, na Itália, veio a perspectiva linear, depois a geométrica, o domínio das luzes, volume das figuras, proporção, até chegar no hiper-realismo do barroco com Artemísia Gentileschi. Na Holanda o processo é bem acelerado por causa do desenvolvimento comercial que está acontecendo nessa região.
Por isso, podemos dizer que A Madonna e a Criança de Vittore Carpaccio possui características da pintura holandesa primitiva, pois nessa época a estética renascentista italiana ainda não estava tão desenvolvida para o naturalismo. Uma observação que podemos fazer é que nenhum desses dois artistas, Vittore Carpaccio e Antonello de Messina estiveram nem perto da Holanda, mas de algum jeito conseguiram aprender muito bem a estética de lá.
Uma outra pintura de Vittore Carpaccio com características da estética primitivista holandesa está na pintura a seguir chamada de Madonna lendo um livro.

Madonna lendo um livro é uma pintura que Carpaccio mostra toda sua habilidade. O artista fez uma mulher sentada num banco lendo um livro pequeno, com uma paisagem ao fundo. Uma das características únicas de Carpaccio era combinar uma pessoa com uma paisagem. Um outro aspecto dessa pintura está no nível de detalhamento feito pelo artista, especialmente no vestido usado pela mulher que está no centro dessa pintura.
Além disso, a luz não é difusa, vindo de todos os lugares e de lugar nenhum, é claramente a luz do sol, pela sombra que aparece no lado esquerdo da tela, e o falto do artista mostrar uma sombra realista, que aparece em outras partes da pintura, é uma evolução incrível nessa parte das técnicas de iluminação em pinturas. Esses detalhes de luzes e sombras só terão esse tipo de detalhe em algumas pinturas barrocas e nas pinturas realistas e ultrarrealistas (século XIX, XX e XIX).
Outra pintura que o artista inclui uma bela paisagem de fundo se chama A Fuga para o Egito.

A Fuga para o Egito é uma pintura que possui características da arte medieval das Iluminuras e da pintura primitiva holandesa. As Iluminuras Medievais tinham essa configuração, uma paisagem mais rudimentar e pessoas praticando alguma ação, no caso acima é José, Maria e Jesus Cristo numa estrada. Diferente das Iluminuras Medievais, Carpaccio deu volume, contrastes e perspectiva a sua pintura, a mula retratada possui características realistas, os trajes, tanto de José quanto de Maria possuem dobras e fluidez, ele colocou Jesus Cristo bebê e a Virgem Maria segurando.
Sua obra de arte mais famosa é A Lenda de Santa Úrsula, que possui oito telas e um retábulo no final. Uma dessas partes está na imagem abaixo e se chama A partida dos embaixadores.

A narrativa dessa lenda foi tirada da Lenda dourada, esse trabalho foi encomendado pela família Loredan. Todas as partes que compõem essa lenda possuem essa mesma característica estética da arte primitiva holandesa, que possui certa perspectiva, proporção, e essa visão de uma sala, que parece com aquelas sakas de casas de boneca, que tem uma parede do cômodo aberta pra poder ver a casinha por dentro, e os bonequinhos estão parados fazendo alguma ação.
Assim:

Carpaccio escolheu pintar as nove partes como se fossem esses cômodos, talvez para não chocar demais as pessoas na época. Mas em outras pinturas, quando ele não está fazendo nenhum mural ou narrativa, suas pinturas são geniais como na obra chamada Sibyl.

Sibyl é uma pintura pré-barroca. Tem características desse movimento como o excesso de detalhismo nos trajes da pessoa retratada. A mulher que aparece na pintura é Sibyl, uma deusa grega que havia negociado livros proféticos com um rei romano, e chegaram a um acordo de três livros. Pintar uma deusa profeta greco-romana no século XV é algo um pouco precoce. Não podemos deixar passar o detalhe do pequeno pet que está no canto do lado direito.
Vittore Carpaccio morreu no ano de 1526.
Referências e Imagens:
https://en.wikipedia.org/wiki/Vittore_Carpaccio
https://fr.wikipedia.org/wiki/Vittore_Carpaccio