Por que as pessoas acreditam em Fake News?

O fenômeno das pessoas acreditarem em notícias falsas não é algo novo, isso acontece desde a origem da imprensa e da mídia. Isso se tornou um grande problema pois mais pessoas tem acesso a informações por canais não convencionais como o Whatsapp, Facebook, Twitter…

Mas afinal, por que as pessoas acreditam em notícias falsas?

A gente tem que fazer uma separação entre que o tipo de notícia falsa e em que país isso acontece. Pois no caso do Brasil, a nossa imprensa já foi uma grande propagadora de notícias que não eram verdadeiras. Como, por exemplo, naquele caso da cientista brasileira que teria feito pós doutorado em Harvard mas que no fim a imprensa só checou a informação em 2019, depois de passar anos e anos repassando essa informação falsa. (1)

A nossa mídia brasileira algumas vezes tem esse problema de falta de checagem de fatos. Então um pouco da culpa do sucesso das fake news vem dessa perda de credibilidade da nossa imprensa gerada por essas informações sem checagem. Mas isso não poder ser dito sobre a imprensa americana e nem a francesa, por exemplo. A mídia internacional mainstream é um pouco mais cautelosa com as informações que divulgam mas mesmo assim comete grandes deslizes.

Fake news e o jornalismo no Brasil

Vamos analisar o nosso cenário, o Brasil. Pense numa situação hipotética, hoje é sexta a noite lá pelos anos 2005, você ligava a TV e aparecia uma reportagem: “Ovo faz mal pra saúde?” e vinha cenas de cientistas em laboratórios, jornalistas falando em “estudos”, e aí a reportagem concluía que fazia bem comer ovo. E então chega 2011 e outra reportagem do mesmo canal falando sobre o ovo mas agora dizendo que faz mal. E agora estamos em 2020, aparece uma reportagem sobre o ovo naquele canal que já disse que ovo faz bem e faz mal em anos diferentes, e vem uma corrente do Whatsapp sobre esse assunto, dizendo que um cientista desvendou os mistérios do ovo.

Recebemos informações conflitantes, que muitas vezes a gente não lembra conscientemente mas que lá no fundo fica uma dúvida sobre se devemos confiar nesse jornalismo da TV, pois as informações conflitantes ficam em nosso subconsciente e geram essa dúvida. E é por essa porta que entra as fake news no caso do Brasil. Infelizmente essa caixa de pandora aberta pela imprensa brasileira é difícil de ser fechada. Essa é uma observação sobre o Brasil.

Mas primeiro vamos voltar para aquela reportagem do ovo…De onde surgiu essas informações conflitantes? No ano de 2000 saiu um estudo dizendo que o ovo faz bem. Na ciência não podemos tirar uma verdade universal a partir de um estudo. Esse um estudo para os cientistas significa que nós precisamos de mais estudos pra confirmar. (2) O erro da nossa imprensa é esse, ter uma única fonte. Isso é perceptível no caso da cientista que alegava ter feito pós doutorado em Harvard, uma notícia era a repetição de uma notícia anterior, num ciclo vicioso que só foi quebrado porque alguém resolveu averiguar o diploma, entrar em contato com Harvard…fazer o bom jornalismo.

A imprensa brasileira assume um pouco essa mea-culpa sobre se repassar essas informações jornalísticas falsas é fake news ou erro jornalístico.(3) O problema que essa distinção não existe para o público que acaba consumindo esses dois tipos de desinformação, faz parte de um mecanismo psicológico. (9)

Fake news e a mídia nos EUA

Nas eleições que aconteceram nos EUA em 2016 e que elegeram Donald Trump as fake news foram cruciais para o resultado das eleições. Paul Horner, um fabricador de histórias falsas mostrou como era fácil criar uma notícia falsa e passar adiante como se fosse uma notícia verdadeira. Ele criou várias notícias satíricas sobre Donald Trump que foram interpretadas como histórias reais. Além de de ter conseguido arrecadar doações com uma notícia falsa sobre a Índia.

Os americanos que acreditam em fake news sobre política tem um perfil de idade acima de 60 anos e são conservadores, eles sofrem do que a psicologia chama de Viés de Confirmação.

Em Resumo, o Viés de Confirmação significa que as pessoas acreditam no que querem acreditar que seja verdade. (5) Um artigo num blog de psicologia diz que as pessoas só mudam de ideia se forem abertas a reflexão, tenham a mente aberta a novas possibilidades, se buscarem a verdade. Tudo o que uma pessoa com uma ideologia forte não possui. (6)

Enquanto a nossa mídia desliza em notícias relativamente simples, nos EUA, durante a era Bush, naquele contexto do pós atentados do World Trade Center. O presidente americano divulgou na ONU relatórios falsos sobre armas de destruição em massa para justificar uma invasão ao Iraque.

Quando os americanos descobriram que os relatórios eram falsos e que toda a mídia convencional havia repassado essas informações sem checar a veracidade e tendo como consequência milhões de refugiados, trilhões de dólares gasto numa guerra desnecessária e a criação do Estado Islâmico, a mídia perdeu muito da credibilidade que tinha. (7)

Fake news sobre saúde e bem estar

A história do ovo é um exemplo de jornalismo fraco mas existem empresas e pessoas que lucram em cima de fake news com o tema de saúde e bem estar. (8)

Quando existe uma notícia sobre a indústria farmacêutica do mal que lucra vendendo remédios de câncer e que por isso não existe cura, existe uma outra notícia em contrapartida falando sobre os benefícios de um chá mágico no combate ao câncer.

As pessoas criam fake news para vender livros, no site Amazon existe uma lista de livros sobre medicina alternativa e tratamentos alternativos que vendem muito pois as pessoas caem na história da indústria farmacêutica do mal.

Também existem os click-baits. Eu poderia usar o título: Imprensa brasileira espalha fake news, para atrair leitores.

Mas a pergunta ainda permanece…

Afinal, por que as pessoas acreditam em fake news?

Essa pergunta tem várias respostas, eu já comentei sobre o Viés de Confirmação, mas existem outras explicações.

Nosso cérebro foi feito pra economizar energia, pensar gasta energia. Se você lê uma notícia sobre um assunto que não é do seu interesse a tendência em conferir a veracidade da informação diminui, então você lê e não questiona.

Ou o assunto pode ser do seu interesse, mas como somos inundados todos os dias com informações nos feeds de notícias e essas informações chegam de uma maneira rápida, nós também não checamos a veracidade da informação, o cérebro está sobrecarregado e ficamos impacientes.

Somos cognitivamente preguiçosos, ou seja, pensar dá preguiça pois nosso cérebro evoluiu pra conservar energia e não queremos ter o trabalho de checar tudo que nós lemos.(9)

Fake News são como fofocas e se espalham como uma doença contagiosa de individuo para individuo. Quando você está numa conversa informal, bebendo, comendo e comentando coisas com outras pessoas a tendência de você acreditar numa notícia falsa aumenta. (10)

Referências:

(1) https://brasil.estadao.com.br/blogs/estadao-podcasts/estadao-noticias-reporteres-do-estado-contam-bastidores-da-apuracao-que-revelou-diploma-falso-de-harvard-da-cientista-joana-darc/

(2) https://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0066-782×2018000600585&script=sci_arttext&tlng=pt

(3) http://www.observatoriodaimprensa.com.br/monitor-da-imprensa/erro-jornalistico-procedimentos-de-correcao-e-fake-news/

(4) https://en.wikipedia.org/wiki/Paul_Horner

(5) https://www.blogs.unicamp.br/politicanacabeca/2019/06/25/fake-news-por-que-as-pessoas-acreditam-em-noticias-falsas-segundo-a-psicologia-social/

(6) https://www.psychologytoday.com/za/blog/thoughts-thinking/201804/how-change-people-s-minds

(7) https://fr.wikipedia.org/wiki/Fake_news

(8) https://www.istoedinheiro.com.br/divulgadores-de-fake-news-de-saude-tem-por-tras-loja-de-produtos-naturais/

(9) https://www.psychologytoday.com/za/blog/thoughts-thinking/201911/7-reasons-why-we-fall-fake-news

(10) https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1877050918313851

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