Macbeth e os caprichos do destino

William Shakespeare é um autor que tem duas qualidades vista em poucos escritores: senso crítico aguçado e uma linha moral bem definida; ele sabe a diferença entre o certo e errado, independente da cultura em que ele está inserido, no caso dele seria a Inglaterra do século XVI, sob o reinado de Elizabeth I.

Macbeth, uma de suas obras mais conhecidas, é verdadeiramente uma obra-prima que mostra o senso de moral e conhecimento sobre a vida que o escritor possui. A personagem que dá nome ao livro, a Lady Macbeth, é considerada uma das maiores vilãs da literatura.

Para entender essa obra de Shakespeare a leitura deve ser feita como se fosse uma peça de teatro (o livro em si é um roteiro que deve ser encenado).

O livro é dividido em cinco atos, o primeiro ato começa com a reunião de três bruxas, as Moiras. Na mitologia grega elas eram três irmãs que teciam o destino de uma pessoa, utilizando a roda da fortuna. O autor introduziu essas personagens para mostrar que os acontecimentos que vem a seguir são frutos dos caprichos do destino. E ficamos sabendo da impiedade dessas três bruxas. Pois elas amaldiçoam as pessoas quando elas são contrariadas.

Somos então apresentados ao Rei Duncan, Malcom, Donalbain e Lennox; e um capitão ensanguentado. Do diálogo entre eles descobrimos os feitos do Lord Macbeth, um soldado covarde que foi retalhando todos que ele via na frente e que então matou impiedosamente um escravo.

Mas claro, como estamos falando de Shakespeare, as falas são irônicas, pois ao descrever essa cena, Duncan (primo de Macbeth) celebra dizendo: “Ah, meu valente primo, notável cavalheiro” .

Ficamos sabendo nessa parte do ato que há uma guerra entre a Escócia e a Noruega (O Rei Duncan governa a Escócia). Também percebemos que a falta de julgamento de caráter do Rei vai selar seu destino.

Macbeth e seu parceiro de combate Banquo tem seu primeiro encontro com as Moiras. E um dos melhores diálogos da obra começa, Banquo faz perguntas a la Shakespeare para as bruxas, com uma pitada de provocação ao leitor, …”Vivem vocês? Ou seriam vocês alguma coisa que não admite perguntas humanas?”. As bruxas lançam sua profecia a Macbeth primeiro, e dizem que ele será Barão de Glamis, Barão de Cawdor e Rei.

7E05881F-8943-417D-A10F-F4D2835BA84D
Moiras tecendo o destino

Banquo ao notar o nervosismo de Macbeth com o que as três bruxas disseram, desconfiado, ele o indaga: “Por que parece o senhor temer palavras que soam tão auspiciosas? Em nome da verdade, é fantasioso o senhor ou é realmente o que aparenta por fora?”

As bruxas respondem ao Banquo de forma enigmática “Menos importante que Macbeth, e mais poderoso. Menos feliz e, no entanto, muito mais feliz” E a profecia das Moiras sobre ele é que os filhos dele serão reis, embora ele mesmo nunca se tornará Rei, de acordo com as três bruxas.

Macbeth fica incomodando com a possibilidade dos filhos do Banquo virarem reis.

Conforme a obra segue as duas primeiras profecias das a Moiras sobre Macbeth se concretizam, e então só falta a ele virar rei.

Banquo o alerta sobre a armadilha que ele pode cair caso todas as profecias das senhoras do destino aconteçam.

Nesse meio-tempo entre os acontecimentos, Shakespeare solta mais uma de suas frases sábias ditas pelo seu personagem Duncan. “Não existe arte pela qual se possa adivinhar o caráter de um homem só em observando-lhe a fisionomia.” Embora pareça clichê hoje em dia, estamos falando de algo escrito no século XVI, onde, sim o caráter era julgado pela aparência e a posição na sociedade.

Uma carta de Macbeth a Lady Macbeth chega ao seu castelo; esta narra o encontro dele com as bruxas do destino, e as circunstâncias pela qual se cumpriram as duas primeiras profecias (a saber: foi a desonra do Barão de Cawdor e sua posterior execução). Ao ler tudo isso e para que a profecia sobre se tornar Rei se cumpra, Lady Macbeth pensa que seu esposo precisa assassinar o Rei Duncan, e acha que ele não é capaz de fazer isso pois ele é muito covarde, segundo ela.

Pouco tempo depois, Lady Macbeth recebe a notícia de que seu marido está retornando para casa na companhia do Rei, e vê isso como o momento perfeito pra tramar um plano de assassinato para o Lord Macbeth assumir a coroa no lugar do rei morto.

Porém Macbeth hesita em cumprir o plano e Lady Macbeth o repreende de forma fria e um tanto cruel:

“Estava bebada, aquela esperança de que te revestias? Caiu no sono, a tal? E agora ela se acorda, tão pálida e verdolenga, para examinar o que antes fez com tanta liberalidade? (…) Tens medo de ser na própria ação e no valor o mesmo que es em teu desejo? Queres ter aquilo que, por tua estimativa, é o adorno da vida e, no apreço que tens de ti mesmo, levas a vida como um covarde, não é assim?(…)”

Ao ver que o medo de Macbeth pode levar ao fracasso do plano e a serem descobertos. Lady Macbeth se propõe a matar o Rei, mas não sem antes reclamar.

Ela embebeda o Rei e dois criados, e enquanto estão caídos de bêbado, ela pega um punhal e corta a garganta do Rei e coloca a arma do crime nas mãos de um criado. E então Macbet decide assassinar os criados.

Essa cena da Lady Macbeth assassinando o Rei é escrita de uma forma que esse ato seja sutil, nunca mostrado, só deixado a entender.

Depois da morte do Rei Duncan, Macbeth e Lady Macbeth começam a sentir as consequências do que fizeram pra conseguirem a coroa e o trono. Delirando, Macbeth diz que os dois nunca mais irão conseguir dormir.

0B33F1A5-C6D2-44D5-BD77-DC13BD019A41

Pulamos para o cenário dos portões do inferno. O porteiro começa a receber as pessoas que entrarão no inferno. Também é uma das melhores partes da peça.

Segundo essa cena, o inferno pertence aos hipocritas. “Pam, pam, pam! Não se tem descanso. Quem é? Mas este lugar é frio demais para ser o Inferno. Não mais servirei ao diabo. Havia imaginado eu deixar entrar alguns de todas as profissões, que trilham o caminho menos árduo e mais perfumoso para a fogueira eterna. [Batem a porta] Já vou indo, só peço que o senhor não se esqueça do porteiro.”

O corpo do Rei é então descoberto, e conforme o plano, os criados são responsabilizados E Macbeth se torna rei.

Inicia um reinado tirânico, onde derramamento de sangue são necessários para conseguir  manter o rei ilegítimo no poder, então Macbeth fica cada vez mais louco e paranóico e não consegue mais dormir e Lady Macbeth, quando dorme, começa uma espécie de sonambulismo, em que ela tenta lavar as mãos para tirar o sangue do rei morto por ela, sem jamais conseguir.

Macbeth começa a desconfiar de todos aqueles que podem usurpar sua coroa, principalmente do seu melhor amigo Banquo.

As Moiras falaram que os filhos de Banquo seriam reis, isso deixou Macbeth profundamente incomodado, porque para que os filhos de Banquo se tornem reis, então ele deveria fazer o mesmo que Macbeth fez, ou seja, assassinando seu melhor amigo para os filhos virarem reis.

Então Macbeth contrata 3 assassinos para matarem Banquo,  e ele ainda executa seus amigos e aliados de antes dele ser rei simplesmente porque tem medo de deixar de se Rei.

Hecate, a rainha das feiticeiras, vê a situação criada pelas três bruxas e fica muito zangada e para corrigir o que elas fizeram ela lança outra profecia para Macbeth: “Ele vai menosprezar o Destino e zombar da Morte, e nutrirá suas esperanças sem levar em consideração o bom-senso, a delicadeza de espírito e os receios dos mortais. E, como vocês todas sabem, a excessiva confiança é o maior inimigo do homem.”

O reinado tirânico de Macbeth resulta na revolta de vários nobres, o que levará à sua morte em combate, e a coroação do verdadeiro herdeiro do trono, Malcom, o filho do Rei Duncan. Quanto a Lady Macbeth, ela acaba se suicidando.

Macbeth é uma obra que mostra como os caprichos do destino podem levar um tirano louco e ilegitimo ao poder, e que o mesmo destino pode retirá-lo de lá.

Não quer perder nenhuma postagem do culturalizando? Me siga no Twitter:

@culturalizar

*Se você tem alguma sugestão de tema? ou quer expor sua arte aqui? Ou um texto? Ou uma reclamação? Entre em contato por e-mail: culturalizando.b@gmail.com

 

 

Um comentário em “Macbeth e os caprichos do destino

  1. Cara amiga,

    Cumprimento-a pelo trabalho feito a respeito desta tremenda peça de Shakespeare, da mesma forma que fiz pelo seu resumo de Hamlet.
    Reconheço a imensa dificuldade de apresentar um resumo desta peça como fez de Hamlet. Mas o seu trabalho é válido e as ilustrações são óptimas.
    Felicidades e… faça favor de continuar.
    jcbrites

    Curtido por 1 pessoa

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.