A Ophelia será a vítima inocente dessa obsessão de Hamlet por vingança. Essa personagem é a típica bela, recatada e do lar. É uma filha obediente, ouve os conselhos do pai e irmão. William Shakespeare escreve essa peça no século XVI (1500-1600), e ele é um autor muito sutil quando aborda questões delicadas.
Então ele não é direto com essa personagem, ele mostra como ela é oprimida através dos diálogos do irmão e do pai. Os dois estão preocupados com a castidade de Ofélia, e aconselham a se afastar de Hamlet, mas ela é apaixonada por Hamlet, e não fica claro se Hamlet corresponde esse amor, pois ele está obcecado com a sua vingança.
O irmão de Ophelia, Laertes, acaba viajando e deixa a irmã com o pai.
Quando Hamlet finge loucura o pai de Ophelia, Polônio, acha que isso é resultado de um suposto amor doentio que o príncipe sente por sua filha, não sabe os reais motivos do comportamento de Hamlet. Mas ele quer testar sua teoria e manda a Ofélia mentir pra Hamlet, enquanto ele e a Rainha espionam.
O problema é que Hamlet está furioso com sua mãe, que casou com o tio, e quando ele percebe que a Ophelia está mentindo, ele reage muito mal, diz coisas maldosas, depois fala que ela deveria ir para um convento, ou virar prostituta. E Ofélia fica muito magoada, mas criada para ser uma mulher dócil, submissa e obediente, ela disfarça esse sentimento.
Polônio, o pai de Ophelia continua a se intrometer nos assuntos de Hamlet com a Rainha, e se esconde no quarto dela atrás de uma cortina. Hamlet está discutindo, e fora de si, então aqueles dilemas morais sobre se deve ou não matar o tio (que agora é o Rei) desaparecem, e ele vê a figura de Polônio atrás da cortina e achando que é o Rei, ele mata o pai de Ophelia achando que era o tio.
Ele esconde o corpo de Polônio, e o Rei e a Rainha abafam esse assassinato e fazem um funeral simbólico rápido, e mandam Hamlet ir pra embora pra Inglaterra. A Ophelia fica sozinha e ninguém na história fala nada, ou pensa realmente sobre a situação dela. Ela fica completamente sozinha, o pai morreu, Hamlet não fala mais com ela, e o irmão está em viagem.
Ophelia enlouqece de verdade, enquanto a loucura de Hamlet era fingimento, nessa parte da história Hamlet não está no Castelo e não sabe sobre a situação de Ophelia.
Então Shakespeare, em sua genialidade e sutileza, faz o desfecho dessa personagem através de uma notícia recebida pela Rainha, de que Ophelia estava deitada num lago, falando coisas sem sentido, enquanto afundava e morreu afogada. Fica subentendido que ela se suicidou.
Na hora do sepultamento do corpo dela, os coveiros comentam a história de uma moça que supostamente morreu afogada mas que na verdade ela abreviou a própria vida, e reclamam que ela está tendo um enterro cristão (na época suicidas não podiam ser enterrados em solo sagrado). Eles começam a zombar do corpo dela, e de outros cadáveres do cemitério, e Hamlet volta da sua viagem e entra no cemitério e ouve a conversa e brinca com os crânios, junto com os coveiros.
Shakespeare nunca deixa um personagem sem punição, e enquanto Hamlet está nessa situação com os coveiros, acontece um funeral e ele descobre que é a Ophelia que está sendo sepultada.
Ele fica tão perplexo que aparece na cerimônia, e nessa altura da história ele é procurado por Laertes porque assassinou Polônio, e Laertes está no funeral, ou seja, uma atitude impensada, e pela primeira vez ele sente a dor de ter perdido a Ophelia. Depois que o sentimento passou, ele diz que amava ela, mas não parece que é verdade, pois fica subentendido que ele quer usar isso como desculpa pra duelar com Laertes e conseguir concluir sua vingança contra seu tio, o Rei.
Mas ele não sabe que o Rei e Laertes armaram uma cilada, e envenenaram a espada que Laertes vai usar no duelo, e o Rei ainda preparou uma taça de vinho com veneno, planejando oferecer a Hamlet durante as pausas no duelo.
William Shakespeare dá a todos os personagens o que merecem. Durante o duelo, a rainha bebe a taça com o veneno, e enquanto Hamlet e Laertes estão duelando acabam trocando de espadas, e os dois recebem um golpe com a espada envenenada, e Hamlet obriga o Rei a beber o resto do veneno na taça.
No final todos morrem e aparece Fortinbrás, o príncipe que era o verdadeiro herdeiro da Reino, pois o pai de Hamlet tinha usurpado a coroa através de um golpe feito por contrato.
Ninguém era santo nessa trama, exceto Ophelia. Mas ela foi um personagem que serviu pra mostrar o que a humanidade faz com boas moças, obedientes, puras e virgens. Através de Ophelia ele mostra como a educação submissa da mulher é errada.
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