A explosão do Nu Artístico no século XIX (parte 1)

A Europa passou pelo período conhecido como Idade Média em que a Igreja Católica detinha grande poder sobre a moralidade e a vida das pessoas, inclusive os reis estavam sob o domínio da Igreja. Depois da queda do Império Romano do Ocidente, e as “invasões” do Império Romano levou a uma ruralização e uma certa fragmentação da Europa. O único fator de união era a Igreja.

A Inquisição e a Arte

Porém quando grupos dissidentes começaram a confrontar o status quo da Igreja Católica, esta criou mecanismos para impedir apostasia. A Igreja deu inicio a Santa Inquisição, uma forma de combater as heresias na época. A Inquisição começou na França e depois Itália. E se estendeu à Espanha após a guerra de reconquista. Então o nu artístico foi duramente reprimido e censurado. Os artistas não tinham liberdade para pintar figuras sem roupa.

No Renascimento italiano alguns artistas começam a pintar figuras mitológicas sem roupa até mesmo na capela Sistina, Michelangelo se inspirou em imagens gregas para contar a história do gênesis, a famosa figura da criação de Adão pintada no teto da Capela Sistina, apresenta nu artístico masculino.

A criação de Adão, Michelangelo.

Tendo que enfrentar a Reforma Protestante, a Igreja Católica endureceu a Inquisição e deu como uma das respostas o patrocínio a arte barroca. A contra-reforma fez diversos ataques ao trabalho de Michelangelo na Capela Sistina. Mas o mundo estava mudando, a Igreja Católica estava sendo confrontada até mesmo por reis.

Embora em alguns lugares como a Espanha, a Inquisição tenha começado tardiamente. Nas regiões da Itália os artistas começam a pintar nus artísticos, pois o renascimento trouxe os ideais greco-romanos da antiguidade. Sandro Botticelli pintou sua famosa obra O nascimento de Vênus.

O nascimento de Vênus, Botticelli.

Botticelli colocou a figura de uma mulher com um manto indo cobrir a nudez de Vênus, como se mostrasse que uma pessoa sem roupa era algo considerado reprovável e devia ser coberto segundo a moralidade religiosa da época.

Na Espanha, com a Inquisição Espanhola em seu auge, Diego Velázquez, pintou Vênus em seu espelho. Ele pode fazer isto pois estava sob proteção do Rei Filipe IV, um amante de arte, o rei manteve essas obras imorais em seus espaços privados, longe do alcance da Igreja Católica. Esta obra foi feita entre os anos de 1647 e 1651.

Vênus em seu espelho, Diego Velázquez.

Esse tema da Vênus no espelho também foi pintada pelo pintor renascentista Ticiano.

Vênus com espelho, Ticiano.

As obras sobre Vênus foram inspiradas em uma estátua do século I a.C conhecida pelo nome de Vênus de Médici. Ela é a cópia feita em mármore de uma estátua em bronze. Esta estátua está em exposição na Galleria Uffizi que fica na cidade italiana Florença.

Vênus de Médici.

O pintor espanhol Francisco Goya confeccionou a obra La Maja desnuda no ano de 1797 e terminou somente três anos depois em 1800. Essa pintura foi feita à óleo, numa época em que a Espanha ainda estava sob o domínio da Igreja Católica, havia a Inquisição Espanhola. Goya se inspirou na Vênus no espelho de Diego Velázquez. E mesmo quase no início do século XIX essa pintura foi censurada.

La Maja desnuda, Goya.

Esse quadro estava escondido da Inquisição Espanhola por Manuel de Godoy, o duque de Alcúdia, em uma sala privativa, porém ela foi descoberta pelos inquisidores no ano de 1808. Goya foi convocado pelo tribunal para prestar esclarecimentos sobre esta pintura, o artista foi obrigado a dizer que ele estava emulando a obra Vênus no espelho de Diego Velázquez. Felizmente a Inquisição espanhola estava começando a perder a força e influência nesta época. Então Goya fez outra versão desta pintura, La Maja vestida.

La Maja vestida, Goya.

Na França a Revolução Francesa havia retirado todo o poder da Igreja Católica (e qualquer outra religião) criando um estado laico. Após anos de lutas intensas, finalmente no século XIX a França estava se livrando da nobreza e entregando o poder nas mãos da burguesia liberal. Então nesta época surgiu a arte acadêmica, o nu artístico era pré-requisito para um artistas se tornar um artista “de verdade” pelas academias de arte.

O nascimento de Vênus, Alexandre Cabanel.

As banhistas, um tema popular no século XIX

William-Adolphe Bouguereau um pintor francês que estudou na École des Beaux-Arts (Escola de Belas Artes de Paris). Este artista tinha uma admiração pelas esculturas gregas. Ele tentou algumas vezes ganhar o Prix ​​de Rome até que conseguiu e foi estudar na Academia Francesa de Roma na Villa Medici, que era parte do prêmio. Ele participou de diversas exposições anuais na Salão de Paris.

A banhista, Bouguereau

Esta pintura A banhista, foi exibida numa exposição em Ghent, na Bélgica, e fez sucesso sendo comprada pelo museu em que foi exposta por uma grande quantia em dinheiro. Essa pintura foi concluída em 1864.

Bouguereau também pintava ninfas, deusas e principalmente banhistas. Oartista fez outras obras com o tema de banhista, ele fez outra pintura um pouco mais explícita que aquela exibida na Bélgica.

Banhista, Bouguereau.

Jean-Auguste-Dominique Ingres outro pintor acadêmico também fez a sua versão de uma banhista. A obra de Ingres, La Grande Baigneuse, foi pintada na Academia Francesa em Roma. Esta obra foi muito admirada na época, com muitos críticos dizendo que ela é uma pintura que apresenta bastante volúpia, uma obra-prima.

La Grande Baigneuse, Ingres.

Não foi somente os artistas acadêmicos que pintaram sobre este tema, os pintores das vanguardas artísticas também fizeram obras sobre esse tema. O artista fauvista, Henri Matisse fez diversas obras sobre este tema. Uma destas pinturas é As três banhistas.

As três banhistas, Henri Matisse.

O artista francês Paul Cézanne que também fez parte do movimento das vanguardas artísticas fez pinturas sobre o tema banhistas, ele confeccionou uma obra que tem o nome As banhistas, ele pintou um grupo de mulheres banhistas.

As banhistas, Paul Cézanne.

Outro pintor das vanguardas artísticas que fez obras sobre este tema banhistas foi Jean Metzinger. Na pintura Banhistas: Dois Nus em uma Paisagem Exótica, o artista utilizou as técnicas artísticas do divisionismo e o pontilhismo.

Banhistas: Dois Nus em uma Paisagem Exótica, Jean Metzinger.

Muitos artistas europeus fizeram pinturas com nus artísticos, a lista de obras e temas é extensa. Por isso, tem uma Parte 2.