As pessoas morriam envenenadas por causa de copos feitos de chumbo na Idade Média?

Na Idade Média era comum comer e beber em pratos e copos feitos de materiais que utilizavam o óxido de chumbo, como as louças de cerâmica. Existe dois tipos de efeitos de envenenamento com esse metal. O primeiro é que o chumbo reagia com a comida e a bebida formava o óxido de chumbo. Esse óxido em contato com o organismo poderia provocar uma espécie de coma ou até mesmo a morte.

Como as pessoas que bebiam bebidas alcóolicas como cerveja e vinho podiam entrar num estado profundo de inconsciência e até mesmo a morte. Mas as vezes a pessoa poderia acordar desse estado de coma profundo de quase morte. Então pra ter certeza que o indivíduo estava morto, as pessoas colocavam o corpo numa mesa e esperavam um tempo a pessoa acordar. Ser enterrado vivo era uma possibilidade bem grande nessa época. Essa vigília do morto deu origem ao velório.

O segundo tipo de envenenamento era o acúmulo de chumbo no organismo que causava efeitos no sistema nervoso a longo prazo. Dizem que os dinamarqueses e os alemães tinham o costume de utilizar pratos e copos feitos com ligas metálicas de estanho e chumbo em seus enormes banquetes.

Alguns dizem que essa história dos copos metálicos que envenenavam as pessoas na Idade Média é somente um mito, pois não existe muitos resquícios da louça utilizada nessa época. Outros argumento que o velório já era praticado muito antes do período da Idade Média. Os celtas faziam velórios e a vigília do corpo servia para afastar os maus espíritos. E existem relatos de velórios realizados na Grã-Bretanha muito antes do início da Idade Média.

Embora o mito diga que o envenenamento por ligas de chumbo e estanho acontecia na Idade Média, na verdade foi na época dos romanos que o chumbo tinha um grande uso. Os romanos tinham o domínio da técnica de fundição dos metais. Eles utilizavam essa liga metálica na confecção de pratos, copos, outros utensílios domésticos, além de moedas e a maior fonte de envenenamento por chumbo era a água que chegava dos aquedutos, os romanos utilizaram canos de chumbo na construção dos aquedutos.

Uma equipe de pesquisadores dragou sedimentos abaixo de um rio que fica numa região onde Roma tinha um porto marítimo e comparou com amostras de sedimentos retirados dos canos de aquedutos. Eles chegaram a conclusão de que a água que chegava pelos aquedutos continha 100 vezes mais chumbo do que o normal.

Os romanos e os gregos tinham o conhecimento de que o chumbo poderia causar envenenamento. Alguns autores romanos escreveram sobre esse assunto, mas nessa época a quantidade de pessoas que tinha acesso a materiais escritos e que sabiam ler era mínima. Então mesmo que alguns observadores tentassem alertar sobre os riscos da utilização de chumbo nos encanamentos, a grande maioria da população romana não tinha ideia do risco que corriam ao usar a água que chegava através de aquedutos às cidades.

Para descobrir se as pessoas na Idade Média estavam contaminadas por chumbo, uma equipe liderada pelo professor Kaare Lund Rasmussen, da Universidade do Sul da Dinamarca, analisou 207 esqueletos da Idade Média, vindos de cemitérios de comunidades rurais e cidades ricas na Dinamarca e Alemanha. E encontrou o resultado de que pessoas que viviam em centros urbanos tinham mais chumbo no organismo do que as pessoas de comunidades rurais. Os mais ricos tinham mais chumbo do que os mais pobres.

O óxido de chumbo era utilizado para esmaltar a cerâmica de vasos e louças, então até mesmo louças feitas de cerâmica poderiam contaminar uma pessoa com chumbo.

Os antigos romanos e os povos da Idade Média se contaminavam com chumbo. Então essa história não é um simples mito. E o conhecimento definitivo sobre efeitos de metais pesados no organismo humano só veio quando a com a evolução da medicina. Hoje em dia os efeitos da contaminação por metais pesados como chumbo e estanho são bem conhecidos.