Antigamente as mulheres tinham o acesso restrito às artes, na época do Barroco, uma corrente artística que ocorreu entre os século XVII e XVIII, era muito difícil uma mulher virar uma artista, o acesso ao ensino da arte era somente para os homens, as encomendas e o patrocínio de arte eram feitos na maioria das vezes pela Igreja Católica na Europa, uma instituição conhecida por dogmas rígidos em relação à mulher. Por isso não é fácil encontrar muitas artistas mulheres nesse período, mas elas existiram e foram muito talentosas porém seus nomes não são citados igual acontece com outros pintores barrocos. Vamos conhecer três mulheres que foram artistas barrocas: Clara Peeters, Josefa de Óbidos e Judith Leyster.
Clara Peeters, a pintora que existiu
Clara Peeters atuou como artista na Antuérpia e na República da Holanda e nos países baixos espanhóis. Não se sabe muito sobre a vida de Clara Peeters, somente o fato de que ela veio da Antuérpia e que existe uma pintura datada do ano de 1607. Como o nome era muito comum na região onde ela atuava é difícil rastrear até mesmo se ela se casou.
As obras de Clara Peeters foram feitas entre os anos de 1607 e 1621, especula-se que ela tenha se casado e por isso parou de pintar. A artista pintava principalmente natureza-morta, como o trabalho de Clara Peeters se assemelha com o de um outro artista da região, Osias Beert, os historiadores acreditam que talvez ela possa ter sido aluna de Beert. A pintura abaixo chamada de café da manhã é uma das pinturas de natureza-morta que se assemelham as obras de Clara Peters.

Por ser mulher, não existe também registros nas Guildas, embora uma pintura sua tenha sido registrada na Guilda de artista na Antuérpia. Ela é um daqueles raros casos em que uma pessoa é mais conhecida pelo seu trabalho do que por sua biografia, já que não tem um historiador de arte da época que fale sobre a vida dela.
Um de seus trabalhos conhecidos se chama Mesa:

A pintura acima apresenta características barrocas, além da artista imprimir muito realismo nas coisas que estão dispostas na mesa, com a toalha que possui dobras, o reflexo na louça prateada, as azeitonas, a textura do jarro. Essa obra de arte também lembra a de Osaias Beert, por isso supõem-se que ele teria sido professor de Clara Peeters.
Uma outra obra de Clara Peeters se chama Natureza morta com queijos, alcachofra e cerejas:

Clara Peeters retrata com muita habilidade os cenários de natureza-morta, podemos ver o realismo nas cerejas, no queijo, no pão, além do uso de fundo escuro, algo muito característico do barroco.
Josefa de Óbidos, uma grande artista portuguesa
Josefa de Ayala e Figueira nasceu no ano de 1630 na Espanha, porém passou a maior parte de sua vida em Portugal, por ter pintado mais de cem obras, Josefa é considerada como uma das pintoras do barroco mais prolíficas de sua época. A família de Josefa era nobre, e seu padrinho, Francisco Herrera o Velho, era um pintor conhecido da Sevilha. Seu pai, Balthazar Gomez Figuiera, também era um pintor.
A artista foi mandada para um convento para ser freira, foi nesse local que Josefa aprendeu a pintar e demonstrou talento artístico. Josefa ajudou seu pai a confeccionar retábulos. A pintora se mudou para a vila de Óbidos, por isso ela assinava como Josefa de Óbidos.
Josefa de Óbidos recebeu várias encomendas da Igreja para a confecção de retábulos e pinturas para decorar o interior de igrejas, uma dessas pinturas se chama Natividade de Jesus, hoje em dia essa obra se encontra num museu em Portugal:

Como podemos ver em Natividade de Jesus, as pinturas de Josefa possuem características barrocas, com o uso do fundo escuro no cenário, a iluminação, os contrastes que servem para imprimir drama e teatralidade nas pinturas. Nessa pintura vemos que os personagens são iluminados por uma vela e pelo menino Jesus.
A artista também pintou natureza-morta assim como Clara Peeters, uma dessas obras com esse tema se chama Natureza morta com doces:

A pintura de Josefa de Óbidos sobre o tema natureza-morta também apresenta características barrocas devido ao alto nível de detalhamento do cenário.
A artista é um verdadeiro fenômeno da pintura barroca em Portugal, muitos escritores retratam Josefa de uma forma quase mitológica e lendária, por ela ter sido uma mulher que pintava obras barrocas.
Judith Leyster, uma holandesa da idade do Ouro
Judith Jans Leyster nasceu no ano de 1609 e Harleem nos países baixos. A artista fez parte do barroco holandês que é conhecido como a época de ouro da pintura holandesa. Judith Leyster foi casada com um pintor, Jan Miense Molenaer, devido a esse fato, muita das obras de Judith foram atribuídas a seu marido.
A artista aprendeu a pintar com Frans Pietersz de Grebber, membro da Guilda de São Lucas de Haarlem. Diferente das outras artistas barrocas, Judith Leyster nem sempre assinava as pinturas com seu nome completo, as vezes só colocava suas iniciais, o que deixou margem para que suas pinturas fossem atribuídas a outra pessoa. Sua pintura A Última Gota teve a autoria atribuída à Frans Hals até que estudiosos de arte viram suas pequenas iniciais numa parte da obra:

A Última Gota é uma pintura tipicamente barroca, porém a artista vai um pouco além, incluindo em sua pintura pessoas que estão em movimento num espaço que não é tão escuro, colocando inclusive uma caveira talvez como forma de demonstrar os excessos da bebida.
As pinturas de Judith Leyster tiveram sua autoria corrigida apenas no início do século XX por causa dos estudiosos de arte que observaram atentamente os quadros.
Essas três mulheres foram artistas talentosas do movimento artístico do barroco, embora não sejam tão conhecidas quanto deveriam ser.
Imagens: Wikipedia.
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So nice that you’ve put Clara Peeters in the picture.
Being born in Antwerp myself it was great to read about her work.
Greetz,
Rudi
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I enjoyed reading about female artists as when I studied art we were mostly only taught about male artists, thank you.
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