Karel van Mander nasceu no ano de 1548 em Meulebeke, na região de Flandres Ocidental. O artista se estabeleceu na República Holandesa, e é considerado o Giorgio Vasari do Renascimento do Norte, ou seja, um biógrafo dos pintores holandeses renascentistas, além de ter escrito um pouco sobre pintura, o nome desse livro é Schilder-boeck. Mander também fez parte do desenvolvimento do movimento artístico do maneirismo na República Holandesa.
Os historiadores de arte acreditam que Karel van Mander tenha ido para Ghent para estudar arte, depois foi para Roma, onde provavelmente tenha conhecido Bartholomeus Spranger, pois ele trabalhou com o pintor numa encomenda para o Imperador do Sacro Império Romano Germânico Rodolfo II, e por último passou por Viena. Karel Van Mander também aprendeu técnicas artísticas com o pintor Lucas D’Heere, uma das pinturas do mestre de Mander se encontra na imagem abaixo e se chama Elizabeth I e as três deusas.

A pintura acima, Elizabeth I e as três deusas, é uma pintura com características maneiristas, o artista representa as três deusas, da esquerda para a direita: Hera, deusa do casamento, Atena, deusa da guerra, e Afrodite, a deusa do amor. Uma das interpretações dessa pintura pode ser a deusa Hera, do casamento, chamando a rainha para a deusa Afrodite, deusa do amor, mas a deusa Atena aparece fazendo um gesto de impedimento. Historicamente a rainha Elizabeth I nunca casou. Houve muita pressão para que ela escolhesse um pretendente e tivesse filhos por causa da linha sucessória.
O artista seguiu o estilo de Lucas D’Heer e pintou obras maneiristas como podemos ver na pintura a seguir chamada A dança em torno do bezerro de ouro.

A dança em torno do bezerro de ouro é uma pintura com característica maneirista por causa do uso das cores mais alegres, a quantidade de pessoas que o artista colocou nessa obra, o bezerrinho que aparece no centro da ação. Não existe a representação de uma cena dramática, como no Barroco, mas podemos inferir que isso vai se desenrolar num drama quando sacrificarem o pobre bezerro. A representação de diversas pessoas numa pintura se torna quase que uma marca registrada de Karel Van Mander.
Apesar do sacrifício de um animal ser algo bíblico que se encontra no Antigo Testamento, com pessoas bebendo e comemorando, como é descrito na Bíblia, quando se coloca uma cena dessas numa pintura, a representação fica um tanto estranha. Isso é algo que tem que ser comentado pois quando os artistas barrocos chegam, eles retratam as cenas bíblicas ipsis litteris, então vemos as narrativas como a história de João Batista e Salomé pintadas por Caravaggio, é uma pintura um tanto chocante.
Uma outra pintura de Karel Van Mander com diversas pessoas retratadas numa tela é a Jardim do Amor:

Em Jardim do Amor temos muitas pessoas no que parece ser uma festa regada à bebidas, em algumas partes da pintura isso é bem literal, as pessoas estão sem roupa mas isso não é chocante, pois as pessoas parecem manequins, ou seja, uma das características do maneirismo que é a deformação dos corpos, que procura alongar algumas partes, assim como um manequim de loja que também não tem proporção.
Outra pintura de Karel Van Mander que também mostra um tema de festa, que pode ser classificada como uma pintura de gênero se chama A Continência de Cipião.

A Continência de Cipião se encaixa no movimento artístico do maneirismo do norte. Temos diversos soldados no fundo da pintura, e no primeiro plano o que parece ser um ritual de casamento, alguns soldados estão assistindo esse evento, outro soldado aparece importunando uma mulher no canto direito. Mander usou uma paleta de cores multicolorida para retratar um cenário tão dúbio, assim como no caso da pintura A dança do bezerro de ouro, que havia um ato horrível que provavelmente iria acontecer mas era somente uma inferência, algo a vir a acontecer em algum momento após a pintura.
O artista morava numa região que estava sendo atingida por uma guerra religiosa entre protestante, católicos, algumas seitas católicas, também era uma época que aconteceu a iconoclastia (destruição de objetos e obras de arte religiosas), muitos artistas tiveram que se mudar.
Não podemos esquecer que Karel Van Mander é responsável pelo livro chamado de Schilder-Boeck, uma biografia de cerca de duzentos e cinquenta artistas. Essa obra é uma grande referência e fonte sobre história da arte holandesa.
Referências e Imagens:
https://en.wikipedia.org/wiki/Karel_van_Mander
https://en.wikipedia.org/wiki/Schilder-boeck