Os tapetes também foram uma forma de representar a arte. A Idade Média viu surgir o fenômeno das tapeçarias que retratam uma história. Enquanto na China a arte era feita em longos pergaminhos, com metros e metros de comprimento. Na arte europeia ocidental houve a preferência por afrescos e a confecção de iluminuras, mas as tapeçarias também eram confeccionadas como se fossem pinturas, algumas vezes com longas narrativas, como os pergaminhos chineses que contam uma história sobre alguma lenda ou acontecimento real.
A caça ao unicórnio é uma narrativa do final da Idade Média que fala sobre um grupo de nobres que foram a procura de um unicórnio numa floresta francesa.
O unicórnio é uma criatura lendária que aparece há muito tempo em lendas de povos antigos. Uma das primeiras representações sobre esses seres lendários aparecem na Civilização do Vale do Indo, que viveu numa região que engloba o noroeste do sul da Ásia, onde fica a Índia e o Paquistão atualmente.

Os gregos antigos consideravam que o unicórnio era um animal real, por isso as descrições sobre essa criatura aparecem na categoria de história natural e não nas mitologias gregas.
Na Idade Média foi reunido essas informações sobre animais e plantas num compêndio que recebeu o nome de Bestiário. Esse livro medieval foi inspirado no Physiologus, um texto onde aparece animais lendários como a fênix e o unicórnio.
Um dos mais famosos bestiários é o Bestiário de Aberdeen, um manuscrito iluminado do século XVII. Assim como a maioria das iluminuras medievais, o Bestiário de Aberdeen é ricamente ornamentado com folhas de ouro e também contém decoração em prata. Nesse manuscrito aparece a descrição de animais considerados imaginários, como dragões, basiliscos, fénix, grifo e o unicórnio.

Além da descrição dos animais considerados lendários também tinha a descrição de animais exóticos, que eram de lugares como a África, no caso do leão, elefante, e hipopótamo.
O unicórnio começa a aparecer na arte religiosa graças a uma alegoria que fala sobre a Virgem Maria segurando um unicórnio, algo que era considerado um símbolo da Encarnação. O unicórnio é uma besta que seria domada por uma virgem. O chifre do unicórnio era chamado de alicórnio.
A tapeçaria Caça ao Unicórnio foi feita no ano de 1680 para a casa da família Rochefoucauld, essa obra de arte foi saqueada na Revolução Francesa sendo encontrada num celeiro no século XIX.
Devido a essa origem pagã do mito do unicórnio, muitos historiadores ainda debatem sobre o significado dessa tapeçaria. O que se sabe é que a lenda acabou sendo incorporada nas histórias cristãs. Assim como em outras obras de arte encomendadas por nobres, a tapeçaria pode ter sido encomendada para celebrar um casamento.
Essa tapeçaria da Caça ao Unicórnio faz parte de uma série de sete tapeçarias que compõe uma narrativa que supostamente remete à Anunciação de Jesus Cristo. Nessa história o primeiro tapete mostra o início da caçada que culmina na morte do unicórnio e depois esse unicórnio aparece vivo novamente. O tapete abaixo representa o unicórnio morto que foi trazido em cima de um cavalo, aparece um casal no lado direito desse cavalo.

Como podemos ver na imagem acima, o tapete foi ricamente ornamentado, com vários detalhes, se essa imagem fosse exibida fora do contexto da tapeçaria, é fácil confundir com uma pintura. O artista que confeccionou essa tapeçaria utilizou pigmentos que vem a partir de plantas para compor a imagem, além de usar fios de lã e de seda.
Nessa tapeçaria aparecem certas técnicas como o uso de perspectiva, os contrastes na imagem criam volume na figura, especialmente nos trajes das pessoas representadas. A imagem apresenta características da arte pré-renascentista como as obras feitas por Giotto.
No início da narrativa dessa tapeçaria, o unicórnio é encontrado bebendo numa fonte de água e é cercado por diversos caçadores:

A imagem dessa tapeçaria, em que o unicórnio é cercado, apresenta perspectiva e contrastes.
Uma outra imagem dessa tapeçaria representa o unicórnio vivo numa espécie de cercado. Esse é o sétimo tapete da série e é chamado de O unicórnio em Cativeiro.

O unicórnio em Cativeiro apresenta como fundo um estilo artístico da tapeçaria chamado de Millefleur, que são pequenas flores e plantas. Perto do fim da Idade Média, as guildas eram dominantes e os artistas trabalhavam em manufaturas, o que criou uma divisão de trabalho em que os tecelões tinham que tecer a mesma figura.
Devido ao fato do unicórnio aparecer vivo no último tapete, acredita-se que a série de tapetes representa a Anunciação de Cristo, onde o unicórnio seria uma espécie de “cordeiro de Deus”.
Imagens e referências:
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Hunt_of_the_Unicorn
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https://www.viaggiatricecuriosa.it/2019/02/23/la-dama-e-lunicorno-gli-arazzi-del-musee-de-cluny-a-parigi/
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