A humanidade sempre presenciou grandes períodos de fome. Na Europa fatores como o clima e técnicas agrícolas que desgastavam o solo diminuíam a produção de alimentos resultando em períodos de escassez de comida.
Assim como acontece nas epidemias, a fome é muito chocante e trágica, por isso ela aparece como tema de obras de arte, profecias, poesias, literatura etc.
A fome é um dos quatro cavaleiros do apocalipse e ela é tão temida que na Bíblia aparece como castigo divino e provação religiosa.
Em 1315-1317 d.C houve a Grande Fome na Europa. Sempre existiu pessoas vivendo com escassez de alimentos na Idade Média. Porém, nessa época, a falta de comida causou mortes em massa.
O ano de 1315 teve chuvas e frio prolongados durante a primavera e verão então as sementes não germinaram como nos anos anteriores. Podemos citar também o aumento demográfico. A produção agrícola no período medieval era relativamente baixa e existia a rotação de culturas que consistia em dividir a terra em três lotes e deixar um deles descansando. Assim, quase um terço das terras não eram utilizadas pra a plantação.
Uma parte da população europeia morreu de fome. Como consequência da falta de alimentos houve canibalismo, as pessoas abandonavam seus bebês para a morte, a criminalidade aumentou, houve um caos social.
O conto de fadas João e Maria, antes de ser compilado e atenuado pelos irmãos Grimm, era uma história sobre o abandono infantil em períodos de escassez. Essa época teve um grande impacto e é tido pelos historiadores como o início do declínio do feudalismo.
A arte que retratou essa época foram feitas por artistas anônimos porque nesse período ainda não era costume assinar o nome numa obra.
No século XIX ocorreu outra tragédia na Europa, a Grande Fome da Irlanda, originalmente chamada de Irish Potato Famine.
O palavra potato nesse nome se refere a dieta comum dos irlandeses, a batata (existe uma razão para isso, que será explicada abaixo). O motivo dessa Fome foi a concentração de terras irlandesas nas mãos de uma pequena elite que visitava ocasionalmente o país. Esses donos de terras viviam na Inglaterra e eram conhecidos como a aristocracia ausente.
A pequena elite tinha como objetivo tirar o máximo de lucro possível com as terras que possuíam, então eles faziam uma agricultura exclusivamente para a exportação. Em busca de maiores lucros, a aristocracia ausente resolveu alugar as terras por que plantar e colher dava mais trabalho.
As terras foram subdivididas em lotes minúsculos e locadas para os irlandeses. Devido ao tamanho do lote, era somente possível plantar batatas. Porém em 1844 surgiu uma grande praga que destruiu as plantações de batatas e as pessoas começaram a passar fome e morrer.
Estima-se que um milhão de pessoas morreram entre 1845-1852. A Irlanda fez um museu, o National Irish Famine Museum, além de existirem diversas obras e memoriais sobre esse período. O The New York Times fez uma matéria sobre um artista que pintou sobre a grande fome.
A obra acima é do autor Daniel Macdonald, citado na reportagem do The New York Times. Abaixo temos uma imagem do Memorial da Fome em Dublin.
Em 1932 a coletivização forçada de terras, as políticas de Stalin e o bloqueio de alimentos produziram na Ucrânia o Holodomor.
Estimativas extremamente modestas falam que o Holodomor fez mais de 2,5 milhões de vítimas.
Como a Ucrânia fazia parte da URSS havia muita censura sobre o assunto, somente em 1991 a censura acabou.
Existem diversos filmes, documentários, pinturas, música, óperas, teatro, esculturas e até mesmo uma dança que faz referência ao Holodomor. Podemos destacar o memorial das vítimas do Holodomor em Winnipeg, Canadá, de autoria de Roman Kowal.
Abaixo, as pinturas de Nina Marchenko que retratam um pouco da atmosfera terrível dessa época.
Existem mais períodos de fome que ocorreram durante a história humana e a falta de alimentos ainda acontece hoje em dia. E embora atualmente as causas da fome no mundo sejam outras, nosso planeta, que tem mais de 7 bilhões de pessoas, segundo a ONU, em 2019 os dados mostravam que 870 milhões dessas pessoas passavam fome.