A sociedade se beneficia da separação entre Estado e Religião. E existe uma razão para isso.
O filósofo Thomas Hobbes, em seu livro Leviatã, estabelece os fundamentos do Estado, e a maioria das instituições do governo ocidental foram criadas quase nos moldes que ele constrói durante o livro. Por isso, eu vou usar os argumentos dele para falar sobre a separação da Igreja e do Estado.
Deus e a Religião
Hobbes começa falando sobre a causa primeira de todas as coisas: Deus. É impossível investigar as leis naturais sem crer que existe um Deus eterno, mas nossa mente humana é incapaz de conhecer a natureza de Deus.
Além disso, aqueles que não se preocupam com a causa das coisas naturais, e temem aquilo que pode fazer bem ou mal, essas pessoas são inclinadas a criarem diversos poderes invisíveis e subordinados a imaginação. Ou seja, existe Deus e também a Superstição, e são duas coisas diferentes.
O temor as coisas invisíveis é a semente natural do que conhecemos por religião. Alguns homens resolveram nutrir essa semente e revestir com leis, acrescentando suas próprias invenções sobre as causas dos acontecimentos futuros, a fim de se tornarem mais capazes para governar aos demais, usando o máximo do seu poder.
Deus quis
As leis de Deus emanaram de Abraão, Moisés e nosso senhor Jesus Cristo, de acordo com Hobbes. Porém existem homens em posição de poder, que nada tem a ver com Deus, que ditam leis religiosas convenientes que devem ser seguidas por todos, por exemplo, o caso dos Faraós do Antigo Egito.
Quando isso acontece, todas as coisas erradas que existem numa Nação, Pais, Vila, ou Reino são delegadas a Deus (que nem tem parte nas leis criadas por esses religiosos). Se as pessoas estão passando fome? Deus quis. Se uma ponte cai? Deus quis. Se existe corruptos? Deus quis. Se as coisas estão ficando caras? Deus quis. Se não há empregos para todos? Deus quis.
A carta “Deus quis” vai ser usada toda vez que alguma coisa acontecer de errado, mesmo se a verdadeira causa, por exemplo, da queda de uma ponte foi falha de um engenheiro e uma construtora.
Era assim que as pessoas pensavam na Idade Média. Tragedias evitáveis eram jogadas no colo de Deus, como se Ele fosse responsável direto pelos conluios e intrigas que tornava a vida das pessoas pior.
Religião no poder ou a paz?
O Estado é criado para manter a paz entre as pessoas. Uma religião geralmente se divide em seitas, com algumas crenças contrárias, que gera conflito. E no caso de existir outra religião, esse conflito aumenta. Em nome da paz e da união que podem levar uma nação a prosperidade, o Estado e a Religião não devem se misturar.
A própria Religião se beneficia dessa separação do Estado. O governo tem que cuidar de todos os seus cidadãos, inclusive pessoas de outras religiões e os que não tem nenhuma crença. E sem ter que lidar com as coisas do governo, estará mais livre para cuidar de seus fiéis.
Jesus diz na Bíblia que o Reino de Deus não é desse mundo, e dai a Cesar o que é de Cesar. E mesmo no caso de Deus ter estabelecido um Reino no antigo testamento, ele realizou milagres pra mostrar que era “Ele mesmo” que tinha feito isso.
Como diz Hobbes:
“O testemunho que os homens podem apresentar de eleição divina não é outro senão a realização de milagres, a manifestação de profecias verdadeiras (…)Tendo como referência esses itens da religião, aqueles que não provam sua vocação divina com algum feito milagroso não inspiram maior fé do que aquela que os costumes e leis dos lugares estabeleceram.”
Referência: Leviatã, Thomas Hobbes, capítulo XI e XII.
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