Maria Antonietta na abertura das Olimpíadas de Paris 2024. Qual é o contexto dessa cena?

A abertura das Olimpíadas de Paris 2024, cheia de simbolismos e história da França, também teve outra cena muito polêmica (além do Cavaleiro de Prata e o Banquete dos Deuses, que já foi falado no blog – clique nos links em cima dos nomes pra ler) que foi a mulher de vermelho segurando a cabeça de Maria Antonieta.

Cena que causou polêmica na abertura das Olimpíadas de Paris 2024. (Imagem: Reprodução)

Por que os reis foram pra guilhotina? Como começou a crise que levou à Revolução Francesa.

Antes de falar sobre o porque os reis foram pra guillhotina em específico, nós temos que lembrar o que aconteceu na França no século XVIII, que é o que está por trás de toda essa cena (e a maioria dos símbolos franceses), a Revolução Francesa. Então, vamos para o reinado de Luís XIV, o rei Sol.

Luís XIV, o rei Sol.

Luís XIV nasceu no ano de 1638, e assumiu o trono da França no ano de 1661. O monarca viveu o auge do Absolutismo.

Depois de séculos de uma Europa feudalista e descentralizada, quando esse sistema caiu, os reis (em geral) começaram a acumular muito poder em torno de si, e reinavam quase sem contestação, isso por parte da corte, a população não tinha poder político o suficiente pra se opor.

Esse monarca fez algo muito esperto para a época, ele resolveu construir um palácio enorme, e trazer os nobres mais importantes para morar nesse palácio perto dele. Assim, Luís XIV poderia controlar essa nobreza de perto, e evitar qualquer tipo de conspiração contra o seu poder (pelo menos, vindo de perto). Esse palácio que ele mandou construir é o famoso palácio de Versailles.

Palácio de Versailles visto de frente. (Imagem: Pixabay.)

O palácio é um edifício enorme, com cerca de 700 quartos, foi o lugar em que a corte real estava localizada junto com o rei nos séculos XVII e XVIII.

O palácio de Versailles custou muito para os cofres franceses para ser construído. A construção luxuosa possui diversos detalhes feitos por artistas, além de algumas partes do palácio serem cobertas com ouro.

Um salão do palácio de Versailles (ou Versalhes). Imagem: Pixabay

Dentro desse luxo e opulência, os nobres ficavam entediados. O objetivo de Luís XIV trazer essas pessoas era para que ele pudesse controlar eles de perto havia sido cumprido, mas as dívidas e as jogatinas feitas pelos nobres dentro de Versailles era algo quase incontrolável.

Pintura que ilustra a diversão na corte, Arturo Ricci. (Fonte:

Para resolver esse problema ele teve uma outra ideia, para tirar todo o tédio desses nobres, ele criou uma série de regras de etiqueta e protocolos, que deveriam ser seguidos todos os dias. Mas mesmo assim as festas e os jogos continuavam pelo palácio.

Afternoon tear, Arturo Ricci. (Wiki/Domínio Público)

Havia um outro problema, Luís XIV teve que financiar diversas guerras que a França participou, isso deixou o monarca com problemas de falta de dinheiro, o palácio de Versailles era caro, e os cofres franceses nunca tiveram dinheiro sobrando.

O ministro das finanças francês anterior ao reinado de Luís XIV, Mazarin, havia tentado aumentar os impostos sobre os nobres, isso levou a diversas guerras civis conhecidas pelo nome de Frondas.

Ou seja, era difícil lidar com uma classe tão mimada, entediada, e que não entendia a necessidade de dinheiro do Reino da França, e que ainda se revoltava quando precisava ceder dinheiro a esse estado. Enquanto isso, a população sofria com as mazelas da fome e da miséria.

Um efeito negativo ao levar os nobres para morar no palácio de Versailles foi o grande isolamento deles que resultou disso.

Os nobres moravam juntos num palácio luxuoso, tinham que seguir regras rígidas de etiqueta, feitas especialmente pra eles não pensarem muito (lembre-se Luís XIV queria evitar conspirações), além disso o tédio entre eles era muito grande, o que levava às famosas festas em Versailles e as jogatinas.

A população ficava ouvindo boatos sobre o que acontecia em Versailles, e todo o desperdício de dinheiro que acontecia dentro do palácio.

Quando o neto de Luís XIV, o rei Luís XVI assumiu o trono da França, o país estava virado num caos, com a população cansada de pagar impostos e sofrer, enquanto os nobres franceses viviam isolados em Versailles fazendo todo tipo de festas e gastando o dinheiro dos cofres franceses. Luís XVI não era tão firme quanto seu avô, e ao se deparar com uma França que precisava urgente de novas reformas, ele não foi capaz de responder a altura.

Mesmo dentro de protocolos de etiqueta rígidos, os nobres tiveram sim tempo de pensar em conspirar. Na verdade, a situação na França era ruim há muito tempo, e o reino precisava de dinheiro, mas a classe da nobreza era acostumada a esbanjar.

O rei bem que tentou criar impostos para os nobres pagarem, mas eles eram resistentes a isso. O monarca tentou um artifício para resolver o problema da falta de dinheiro que enfrentava e convocou os Estados Gerais. Porém, ele cometeu um erro, e tentou colocar todo o encargo do pesado estado francês na população sem privilégios, que dessa vez, não estava mais disposta a fazer sacrifícios em prol de uma nobreza mesquinha.

Alguns nobres, aristocratas e os novos burgueses (comerciantes enriquecidos) viam que a situação entre o povo e a monarquia ia degringolar e começaram a se juntar à massa de pessoas insatisfeitas com o governo de Luís XVI.

Então, para inflamar ainda mais a população francesa contra a monarquia, acharam uma pessoa para ilustrar gastança e isolamento em Versailles, a Rainha da França, Maria Antonieta.

Maria Antonieta, Le Brun. (Imagem: Domínio público)

A Rainha não era francesa, ela era da Áustria, por isso alguns nobres a chamavam pejorativamente de “A Austríaca”. Por ser estrangeira, ela não tinha a simpatia da classe da nobreza, e também não era popular na França. Um dos maiores mitos sobre ela seria que ela teria dito: “Se o povo não tem pão, que comam brioches!”. Maria Antonieta virou a face da nobreza degradada.

Maria Antonietta tocando Harpa, Jean-Baptiste Gautier Dagoty. (Wikipedia/Domínio Público)

A propaganda contra ela havia dado certo, finalmente as mulheres do povo marcharam em 5 de outubro de 1789 até o palácio de Versailles exigindo a presença de Maria Antonieta. Então, invadiram o edifício, Maria Antonieta escapou por pouco. As pessoas exigiram que o rei e a rainha da França se mudassem para Paris e deixassem o isolamento em Versailles. Os monarcas acataram o pedido e foram morar no palácio das Tulherias.

Para infortúnio dos dois, posteriormente eles tentaram escapar da França para conseguir ajuda externa, então a população francesa considerou os dois traidores, porque queriam abandonar a França e o povo. Então os monarcas foram condenados à guilhotina. E essa foi a cena retratada na abertura das Olimpíadas de Paris de 2024.

Maria Antonietta representada na Abertura das Olimpíadas de Paris 2024. (Imagem: Reprodução)

A Revolução Francesa marca o (início do) fim do absolutismo na França e o começo de uma França republicana. Por isso essa imagem emblemática foi retratada na cerimônia de abertura dos Jogos de Paris de 2024.

E essa é uma das explicações do porque Maria Antonietta foi mostrada assim pelos franceses.

Sobre as festas em Versailles: https://mademoiselleb.eu/en/post/Parties-and-entertainment-at-the-Palace-of-Versailles

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Antonieta

https://pt.wikipedia.org/wiki/Luís_XIV_de_França

3 comentários em “Maria Antonietta na abertura das Olimpíadas de Paris 2024. Qual é o contexto dessa cena?

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