A explosão do Nu Artístico no século XIX (parte 2)

Esta é a continuação do post sobre A explosão do nu artístico no século XIX. Na postagem anterior eu falei sobre o tema As Banhistas no século XIX. Este tópico do banho, embora tenha tido uma expansão súbita no século XIX, graças a arte acadêmica que considerava temas greco-romanos como o ideal da arte, artistas anteriores ao século XIX também pintaram quadros sobre este tema.

Rembrandt, pintor do barroco holandês no século XVII, também fez uma obra de nu artístico sobre banho mas com inspiração religiosa, ele faz uma pintura baseada no Antigo Testamento, em que Bathsheba é seduzida por Davi após este ter visto ela no banho.

Bathsheba em seu banho, Rembrandt.

O pintor acadêmico francês, Jean-Léon Gérôme, também fez uma versão de Bathsheba no banho. Porém seu estilo artístico está mais próximo do neoclassicismo.

Bathsheba, Gérôme.

Outro tema de nu artístico feito no século XIX são versões do nascimento de Vênus. Gérôme também fez uma pintura sobre o mito do nascimento desta deusa grega. Assim como em sua obra Bathsheba, Jean-Léon Gérôme, também utilizou modelos gregos para compor sua pintura. Como no quadro de Botticelli, anjos também aparecem nesta pintura. Gérôme deu um tom mais azulado à sua obra, Botticelli usou tons pastéis.

Alexandre Cabanel um pintor francês academicista, muitas vezes chamado pejorativamente de L’art pompier, em referência ao chapéu que os bombeiros usavam na França e que aparecia uma forma semelhante em pinturas alegóricas greco-romanas. Então inventaram esse termo L’art pompier (Arte de bombeiro). Cabanel também fez uma obra sobre o nascimento de Vênus.

O nascimento de Vênus, Alexandre Cabanel.

Assim como acontece no caso do nascimento Vênus de Gérôme, a deusa de Cabanel também tem os anjos bebês e o mar azul-esverdeado, porém tendendo um pouco mais para a cor real da água do mar.

O artista academicista William-Adolphe Bouguereau, também fez sua versão do Nascimento de Vênus.

O nascimento de Vênus, Bouguereau.

Sua pintura deste tema apresenta o mesmo tom de pele claro das obras de Gérôme e Cabanel, os anjos no cenário, o mar azul-esverdeado e o modelo de corpo num ideal greco-romano.

O pintor oficial de Napoleão Bonaparte, Jacques-Louis David, também pintou quadros de nu artístico inspirados em lendas greco-romanas como a Cupido e Psyche. Segundo a lenda, o cupido teve um caso de amor com a deusa da alma, Psiquê (Psyche). David pintou o casal num sofá, com Psiquê deitando sobre as asas do Cupido.

Cupido e Psiquê, Jacques-Louis David.

Hans Makart também é um artista acadêmico que fez pinturas de figuras nuas, como em sua obra Os Cinco Sentidos.

Os Cinco Sentidos, Hans Makart.

Os artistas do movimento das vanguardas artísticas europeias também trabalharam temas de nu artístico, além do popular tema dos banhistas, como relatei e dei exemplos na postagem anterior. Frédéric Bazille, um pintor impressionista que trabalhava o tema de figuras humanas, fez a obra La Toillete (1870), com uma mulher sendo vestida sentada num sofá.

La Toilette, Bazille.

Frédéric Bazille se afasta um pouco dos modelos pintados por artistas academicistas, utilizando uma composição de cores e efeitos visuais um pouco diferente das deusas gregas retratadas pelos pintores acadêmicos, embora o modelo de corpo continue sendo um pouco parecido.

O neo-impressionista e divisionista Jean Metzinger, utilizou a técnica da divisão de cores e do pontilhismo para fazer quadros de nu artístico. Em sua obra A dança (Bacante, o artista escapa da estética acadêmica que era predominante em sua época, o século XIX.

A dança (Bacante), Jean Metzinger.

Metzinger além de pintar obras neoimpressionistas utilizando a técnica de divisão de cores e pontilhos, o artista também foi um pintor proeminente do cubismo, junto com Pablo Picasso. Ele também confeccionou obras cubistas de nu artístico. Dois nus, duas mulheres, é uma pintura cubista feita por Metzinger.

Dois nus, duas mulheres, Jean Metzinger.

Paul Gauguin foi amigo de Vincent Van Gogh e seu irmão Theo Van Gogh, ele é um pintor das vanguardas artísticas e por ter residido fora da Europa. As mulheres retratadas por Gauguin não são mulheres brancas de padrão europeu. Uma de suas pinturas de nu artístico, Nevermore (Taiti), mostra a figura de uma mulher do Taiti, que era onde o artista residia na época em que pintou este quadro.

Nevermore (Taiti), Paul Gauguin.

Pablo Picasso pintou quadros não convencionais de nu artístico, em sua fase proto-cubista e primitivista ele criou a obra Les Demoiselles d’Avignon, uma pintura que causou espanto em muitos artistas amigos de Pablo Picasso, o artista concluiu essa obra em 1907 mas só expôs esta pintura ao público no ano de 1916.

Les Demoiselles d’Avignon, Pablo Picasso.

O fauvista, Henri Matisse criou uma obra de arte polêmica de nu artístico, Blue Nude, como a estética da obra se afasta daquela pregada como ideal pelos artistas academicistas, quando ela foi exposta, algumas pessoas criaram uma efígie dela e queimaram em forma de protesto.

Blue Nude, Henri Matisse.

Henri Matisse teve uma formação academicista, tendo aprendido a pintar com William-Adolphe Bouguereau. Ele fez outra pintura menos controversa e com influência divisionista e pontilhista chamada de Estudo do Nu.

Estudo do nu, Henri Matisse.

O pintor impressionista Pierre-Auguste Renoir também foi um adepto do tema banhistas, tendo pintado diversos quadros sobre o tema de banho. Um desses quadros, As grandes banhistas, Renoir utiliza como inspiração as pinturas de Ticiano e do renascentista Rafael.

As grandes banhistas, Renoir.

Não foi só os franceses que fizeram nus artísticos diferentes dos convencionais. Amedeo Modigliani, um pintor modernista italiano também fez uma série de obras de nu artístico. Entre elas está Nua sentada em um divã.

Nua sentada em um divã, Amadeo Modigliani.

No século XIX diversos artistas, tanto os acadêmicos como os do movimento modernista europeu fizeram uma série de obras de nu artístico. Alguns destes artistas tem mais de uma pintura com este tema. O século XIX é o período que antecede o século XX que passou por uma grande evolução tecnológica e dos direitos humanos, então as amarras do passado estavam se desfazendo e a nostalgia de um passado perfeito greco-romano influenciou muitos artistas europeus a retratarem a figura do homem e mulher sem roupa como visto em estátuas gregas.

No final do século XX e início do XXI a arte tradicional e a modernista ficaram no passado, agora sendo a vez da arte pop, abstrata e a arte digital.

6 comentários em “A explosão do Nu Artístico no século XIX (parte 2)

  1. Do ato de amor entre o Cupido e Psychê nasceu Hedonê ou Daemon ( a deusa do prazer).
    É referida na filosofia epicurista como um fruto da união da paixão com a alma.
    Dessa analogia nasceu o termo hedonismo (culto ao prazer);
    Sua correspondente da mitologia romana é “Volúpia”‘ (em latim Voluptas).
    Seu oposto é algea, as daemones da dor e espíritos femininos que trazem tristezas e lágrimas aos homens.

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